Um dos meus diálogos prediletos do cinema vem do clássico O Poderoso Chefão. Michael e sua esposa estão conversando quando, de repente, ela sugere que seu sogro, Vito Corleone, é mafioso. Usando um brilhante eufemismo, Michael filosofa:
- Meu pai é como qualquer homem poderoso. Qualquer homem responsável por outros. Como um senador ou presidente.
- Você é ingênuo. Senadores e presidentes não matam.
- Quem é ingênuo, Kay?
Acho que existe um preconceito, até uma certa ingenuidade, quando se fala que o atendimento é burro.
Claro, eles não entendem a sutileza de determinadas idéias. Simplesmente porque não têm o cérebro treinado para isso. Assim como você provavelmente não entende um monte de coisa que eles fazem muito bem. E com uma mão nas costas.
Claro, eles não escrevem tão bem quanto um redator. E por isso aparecem erros de português no PIT. Por outro lado, você provavelmente não tem o tato que os atendimentos precisam ter quando o cliente liga bufando porque acabou de ver que o seu anúncio saiu borrado na Zero Hora.
Esse tato é talento. Um talento diferente do criador, mas igualmente importante para a agência.
Se você fez um anúncio do caralho e o atendimento não aprovou, não significa que ele tenha apresentado mal. Existem infinitos fatores para que o cliente renegue um trabalho. Quem já esteve na linha de frente sabe como é.
Já vi um diretor de arte reclamar que o atendimento tinha enviado sua campanha para o cliente por email. E eu perguntei: "Você foi até o atendimento defender a idéia? Ou mandou por email?". Ele nem teve coragem de responder.
Você já se imaginou no papel do atendimento? Como reagiria se alguém chegasse em cima do prazo e disesse "olha, vai demorar mais uma hora até terminar de montar". Ou quando apresentassem um anúncio completamente fora do briefing quando não desse mais tempo de refazer?
Está cheio de atendimento burro ganhando 4, 5 mil por mês. Assim como está cheio de criador esperto, talentoso e premiado ganhando 600 pila. Conheço muito atendimento que tem o cliente na mão. Que se saísse da agência, levaria a conta junto. E não conheço nenhum criador que tenha esse poder.
Até concordo que, na média, eles são menos capacitados que os criadores. Mas discordo da generalização. Até porque, se eu concordar, durmo no sofá. Minha mulher é atendimento. E lê o Blog da Perestroika.
*****
O Diogo Mainardi há pouco lançou um livro que se chama "Lula é minha anta". Ele diz que a "anta" do título é um substantivo, não um adjetivo. Ou seja: o Lula é o animal que foi incansavelmente caçado pelo colunista nesses últimos anos.
Se o Diogo Mainardi fosse redator ou diretor de arte, e o livro falasse da sua relação com o atendimento, talvez ele defendesse o título da seguinte forma:
"Pouca gente percebe, mas o atendimento carrega uma grande responsabilidade nas costas. Ele merece o meu respeito. Atendimento, você é meu burro".
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
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10 comentários:
Eu trabalho como Assistente de Atendimento e também leio o Blog da Perestroika.
:D
Mas agora falando sério: Atendimento é foda.
É um front de guerra.
A quantidade de pressão que se recebe é de deixar qualquer um maluco.
É preciso muita paciência, jogo de cintura, e "trato" com as pessoas.
Se ouve de tudo, crê que tudo vai se desmoronar ou explodir, mas é nessas horas que o atendimento tem que ser ágil e rápido.
Mas o Atendimento, como fala o post, tem pontos muito positivos:
A quantidade de pessoas do mercado que você acaba se relacionando é enorme.
E, como nós bem sabemos, o "network" é uma parte extremamente importante no nosso meio.
Abs
EXCELENTE texto.
Deu muito a real.
Bah, é bem isso mesmo.
Acho que o Mohallen mesmo já falou sobre a importância do atendimento, dizendo que dependendo da agência, é tão o mais importante que a criação.
é muito afudê pegar um PIT bem feito, que diz o que precisa ser feito, do que o cliente precisa. Dá mais vontade de fazer, e o resultado fica melhor.
Agora, tem as atendimentas-clichê, que não fazem a menor idéia do que criação envolve, te largam um "faz aí qualquer coisa, e pra ontem" e depois te fodem com refação. isso dá uma raiva...
Graaande texto, achei muito bom.
Rafa?
Não, é meu.
Ass: eu.
Mentira é meu.
ass: Bozo.
eu quero muito saber como é o trabalho deles, pra poder acabar com conflitos e preconceitos da minha cabeça. Por isso, me inscrevi no módulo atendimento (sob objeção de alguns amigos huauhhuauhaa). Apesar das piadinhas, quero saber como é estar na linha de frente.
Eu já tive do lado de lá e aprendi um monte.
O Márcio e o Felipe passaram pelo atendimento. Isso explica muito a grande presença de palco que os dois têm.
tg
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