Blog da Perestroika

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Quando a história é contada de trás para frente.

Essa é a capa da revista Wired. A prova de alguém que gosta de correr riscos.



Aposto que a grande maioria das pessoas, quando leu pela primeira vez, interpretou o "Pray" (Reze) como "Reze em nome da Apple, afinal de contas, ela é foda".

Observe na foto acima, no canto direito superior. Diz "June 1997". Sim, essa edição tem mais de dez anos. E, ao contrário do que possa parecer, o significado de "Pray" é "Reze pela Apple, afinal de contas, ela está quase morrendo".

A Wired previa um futuro extremamente nebuloso para a companhia. Justo quando Steve Jobs voltava à empresa como consultor e começava a tornar a Apple uma das empresas mais inovadoras do mundo. Talvez A mais inovadora do mundo.

Revista Wired, 1997. A reportagem tem como título "101 maneiras de salvar a Apple". Curiosamente, o item 1 sugere: "Admita, Apple. Você está fora do ramo de hardwares". Hoje nós sabemos que a Apple não só aumentou sua fatia no mercado de computadores, como criou uma nova plataforma de hardware: o I-pod.



Canso de ver jogos de futebol que, até os 25 do segundo tempo, estão indefinidos. Um time na pressão, outro na retranca. Aí, num contra-ataque, sai o segundo. A equipe se joga para tentar empatar, mas abre espaços na defesa. Termina 4x0 e o comentarista larga: "foi uma partida de um time só, que mostrou superioridade, soube se defender e matar o jogo na hora certa".

Quando a história é contada de trás para frente, é tudo muito fácil.

Cresci ouvindo meu pai dizer que as pessoas julgam o sucesso dos outros, mas nunca consideram os riscos envolvidos para alcançar esse sucesso. No caso do jogo de futebol: colocar o time inteiro na retranca pode ser um tiro no pé. Se tomar um gol, o técnico é burro. Se ganhar, é um herói.



Muita gente erra porque se arrisca. No ramo de computadores, no futebol e na propaganda. Quantas campanhas a gente vê no ar e diz "caralho, onde é que eles estavam com a cabeça?".

Se dissessem que "para anunciar o PSP, a Sony vai grafitar muros de Nova York com imagens de caras jogando". Alguém em sã consciência teria coragem de reprovar esse viral?



Vocês com certeza ainda enfrentarão muitas situações assim. Agora, como criadores das suas próprias idéias. E mais para frente, como avaliadores das idéias dos outros.

Eu aprendi a admirar quem, no mundo da propaganda, sabe correr riscos. Sejam os doentes ou sejam os comportados. Sim, porque quando se fala em riscos, muitos confundem com ousadia. Às vezes, ser conservador é o mais inusitado, justamente o que garante vida longa para determinada campanha.

Veja o exemplo de marcas que não alteram as suas embalagens há décadas. Aposto que algum chato passou anos e anos tentando convencer o Seu Maizena a trocar o rótulo para que o produto não parecesse velho.

Então, chega a hora de dar sentido a esse post. Um post aparentemente comum. Mas experimente lê-lo novamente, agora de baixo para cima. Primeiro o último parágrafo, depois o antepenúltimo, e assim por diante. Muita gente vai dizer que não é uma idéia 100% original. Muita gente vai dizer que é moleza. Sabe como é: quando a história é contada de trás para frente, é tudo muito fácil.

5 comentários:

Michel "Miguel" Morem disse...

não tem a ver com o assunto, mas quanto será que a Apple gastou pra fazer esse comercial do Air?

Anônimo disse...

eu achei melhor de ler de tras para frente.

abraço

Tuts disse...

"comportados os sejam ou doentes os sejam"

:)

Bjos!

Gabi Elias disse...

Bah li todo post e sabia q ainda tinha um algo mais no final. Talvez pelo título, mas óbvio, quando a história é contada de trás pra frente é muito mais fácil.

Anônimo disse...

O mais curioso é que eu escrevi todo esse post e, só no final, quando quis fazer uma gracinha, é que me veio a idéia do auto-reverse. Daí eu tive que reescrevê-lo umas várias vezes até que ficasse com sentido.

Sabe como é: quando...