Blog da Perestroika

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Zag.

Há alguns anos, a Advertising Age elegeu a BBH (Bartle, Bogle & Hegarty) como a melhor rede de agências do mundo. O Márcio teve o privilégio que trabalhar lá por algumas semanas, num internship. Foi curto, mas tempo suficiente - como ele mesmo diz - para entender melhor toda a efervescência criativa do lugar.

A BBH se posiciona como a contramão. O logo da agência é uma ovelha negra. E o slogan é: Se o mundo faz zig, faça zag.

O que é mais legal é que o trabalho da BBH realmente reflete isso. Não é um discurso vazio. Existe na personalidade da agência uma ousadia que, independente do cliente, está sempre lá.

Essa coragem, essa ousadia é uma coisa que eu procuro experimentar no dia-a-dia. É uma coisa que eu literalmente me forço a fazer, já que a nossa natureza é sempre ir pelo caminho mais fácil.

Exemplo: vez por outra eu me arrisco na cozinha. E quando isso acontece, sirvo de cobaia de mim mesmo. Por isso, eu parto de uma receita, mas sempre procuro colocar alguma pitada de improviso. Normalmente eu nem provo a comida para não saber como está ficando.

A tendência natural é a gente temperar até que fique próximo do nosso sabor predileto. Exemplo: se você gosta de pimenta, e a comida está sem pimenta, a tendência natural é você prová-la e apimentá-la. E se você sempre faz isso, você sempre vai cozinhar dentro do mesmo universo (das comidas apimentadas).

Esse método experimentativo não é infalível, evidente. Não foi nem uma, nem duas vezes que, já na primeira garfada, percebi a merda que tinha feito.

Mas na minha opinião, é um preço muito baixo perto de algumas descobertas deliciosamente exóticas que já fiz. E que só aconteceram porque eu arrisquei. Um all-in sem ver as cartas.

Durante esse último mês, nas minhas férias, sempre que possível tentei olhar as coisas por outro ângulo. Até porque, quando se é turista, é muito fácil cair nos clichês. Você abre o guia e o cara diz "veja isso, veja aquilo". Você vai lá, vê, acha lindo. E vai embora. Normalmente nos falta um pouco dessa coragem, dessa irresponsabilidade, quando se está num ambiente estranho.

Confesso que, na maioria dos pontos turísticos, não rendia nada. Mas em outras foi bem legal. No Louvre aconteceu um episódio curioso (que vai virar outro post mais pra frente.) Mas o meu predileto foi na Basílica de San Marco.



Todo mundo entra lá para ver o teto. E antes que eu pudesse olhar para cima, uma vozinha soprou no meu ouvido e disse Se o mundo zig, faça zag.

Olhei para o chão.



Graças a esse exercício, eu presenciei uma das coisas mais fantásticas da minha viagem. Uma construção toda em mosaico, simplesmente maravilhosa, indescritivelmente linda. Fiquei por vários minutos admirando aquela obra de arte, enquanto japoneses e mais japoneses disparavam seus flashes em direção ao teto.

O mais legal é que, para ter acesso a essa pequena descoberta, não precisei abrir mão de ver a cúpula. Pude observar ambos e inclusive compará-los.

Se eu não estivesse embuído desse espírito (minimamente) aventureiro, talvez tivesse perdido a oportunidade. Assim como todos os meus amigos japoneses perderam.

Num dos seus livros, o Paul Arden fala exatamente dessa mania de segurança. Nós fomos educados para buscar segurança. Mas essa mesma segurança costuma nos limitar, em vez de ampliar os nossos horizontes.

***

Agora, não me interprete mal. O mito de que "basta ser diferente para ser criativo" é errado. Esse pensamento dá margem para milhares e milhares de pessoas acreditarem que são gênios incompreendidos.

Veja bem, não é isso que eu estou pregando aqui.

A minha única provocação é que você, sempre que puder, exercite um pouquinho desse risco. Costuma valer a pena.

***

Falando em risco e em valer a pena, finalmente chegou a hora. Finalmente a obra está pronta para receber a nossa Comunidade.

É o tipo de problema que parece que nunca vai acabar. E talvez nunca acabe mesmo. Sede - assim como casa - está sempre em construção. A gente sempre quer melhorar aqui, mexer ali, reformar aquele outro. Com a Perestroika não vai ser diferente.

Até porque Perestroika, em russo, significa reconstrução.

Um comentário:

Bruno Pommer disse...

O mito de que "basta ser diferente para ser criativo" é errado.
É. Podia não ter nada no chão e tu ia ter que olhar pra cima como todo mundo. Mais um post do caralho.