Blog da Perestroika

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

UM DIA AO LADO DE SERGIO AMON

Era sábado. Sábado de Carnaval. Acordo 6h30 da manhã. O vôo atrasa. A previsão é de chuva em São Paulo. Se realmente chover, a filmagem será cancelada. Passo a noite enchendo meu Iphone de músicas legais. Esqueço o fone de ouvido em casa. Nenhuma loja do aeroporto vende fone de ouvido. Vou na revistaria arranjar alguma coisa para ler. Vejo a capa amarela da Época dizendo "Preocupe-se. Nada mudou, ainda há risco de um novo acidente aéreo".



Tudo isso valeu a pena. Foram algumas das horas mais produtivas da minha carreira. Ver de perto um nome incontestável da produção cinematográfica brasileira é um privilégio de poucos.

Já tive a oportunidade de acompanhar o trabalho de muitas produtoras e de muitos diretores. Alguns, de sucesso nacional. E de todos eles tirei alguma coisinha.

Mas não sei explicar bem. O Amon é diferente. Começa pela sua segurança. Ele tem um domínio técnico que impressiona. Quando perguntamos alguma coisa, ele sempre responde de bate-pronto. Sorrindo e de maneira convicta. O mais legal é que tudo, absolutamente tudo, faz muito sentido. Não dá nem para ficar com um mínimo de dúvida.



Já falei no Blog que o Amon, além de dirigir, fotografa e monta os seus comerciais. Isso faz com que a sua filmagem seja muito mais produtiva. Porque o que acontece normalmente: o diretor capta muito material. Em cada locação, rola plano, contraplano, plongé, contraplongé, aberto, fechado, close up. Ele garante matéria-prima para, na montagem, decidir o que ficou melhor.

Só que cada reenquadramento demora. O diretor tem que discutir com o fotógrafo, os dois entram num acordo e, só então, mexem na luz e reorganizam o set. Isso toma um tempo precioso e, às vezes, o sol vai embora. Quantas vezes já estive em filmagens que deixamos de captar a última locação da diária.



O Amon, exatamente por ter o domínio do fotógrafo e a cabeça de montador, consegue otimizar esse processo. Primeiro: ele não precisa negociar com ninguém uma mudança de fotografia. Por isso é tudo muito rápido. Ele enquadra e, se não gostou, já muda a câmera de lugar. Já acerta a lente, manda fotometrar e sai queimando negativo.

Imagino que o mesmo aconteça com relação à montagem. Ele deve ver na hora se um plano cola com outro. E se não funcionar, muda o enquadramento e/ou o action do ator.



Mais uma coisa que chama a atenção no Amon. Diferente dos outros diretores que trabalhei, ele sabe direitinho se tem ou se não tem o take. Por isso, se já na segunda tentativa ele se sentir confortável, beleza. Recolhe tudo e vamos para o próximo.

Sem falar que o Amon ensaia com a câmera ligada. É um ensaio valendo. Vai que no ensaio já dá tudo certo?


(O que é pior? A barriga do tiozinho ou o dedão na foto?)

O Amon tem um lado meio espetáculo que é do caralho. É tudo muito grandioso. Dá para ver que ele pensa grande.Criou milhões de de traquitanas para viabilizar suas idéias ousadas. Porque o Amon fez questão de usar o mínimo de computação. Ele acredita que se é possível fazer analogicamente (olhem a aula do Felipe!), a coisa tem que ser feita analogicamente. Fica muito mais legal.



Mas ele é ousado por natureza. Ele convenceu o protagonista a correr no parapeito de um prédio, lá no último andar. É até difícil explicar o quão perigoso foi. Quando a gente vê a cena, dá um misto de surpresa, medo e adrenalina.

Essa capacidade de nos envolver com a ação é marca registrada do Amon.

O curioso é que, além de toda esse lado Hollywood, o Amon ainda tem um grande talento para o humor. Ele colocou incontáveis gags no filme. Daria para fazer um comercial de 3 minutos.


(Olha o dedão de novo.)

Para terminar, e para relacionar diretamente com o nosso conteúdo da Perestroika: o Amon é um cara que põe a mão na massa. Me marcou bastante quando, em determinado momento, ele não estava satisfeito com o balanço do tênis. O produtor do set às vezes carregava muito rápido, às vezes ia muito lento, às vezes muito trepidante. Então ele levantou a bunda da cadeira, e mostrou como tinha que fazer.

Em vez de ficar gritando e dando ordens de longe, ele foi lá e fez.


*********

Bonus track:

UMA TARDE AO LADO DE RODRIGO PINTO

Saí do set e fui encontrar o Rodrigo Pinto (que o pessoal da turma 1 conheceu ao vivo). Conversamos muito sobre o mercado da propaganda. Até que ele resolveu me levar na Loducca.

O pico é muito legal. Design pra caralho. Astral pra caralho. Me lembrou muito aquele conceito de Boutique Criativa.



Na Criação, pude ver aquilo que a gente ouve falar, e às vezes acha que é só papinho. Na Loducca, os planejadores sentam ao lado dos criadores. E a troca é automática, não tem processos e burocracias. Todo mundo cria sem frescura de ficha técnica.



Aí, eu perguntei se ele estava trabalhando muito. O Rodrigo abriu um arquivo de Word e me mostrou o tamanho de um único brain: 178 páginas. E não eram 178 páginas de palavras jogadas. Cada idéia era descrita em detalhes.

E vocês reclamam da Maratona de Títulos, humpf.

8 comentários:

Anônimo disse...

Bah, sem comentários. Muito legal esta experiência. De fato, o pessoal da Loducca é show. Valeu por esse post - presente de carnaval. Abrs Tronqs

Marco Bezerra disse...

hahahahaha. Grande Rodrigão. Loducca é CTG agora. Eu tenho uma profundo carinho pelo trampo dos caras. A ousadia é sempre uma qualidade que temos que respeitar. O nível de viagem do trampo da Loducca é sempre altíssimo. Como o Guga mesmo fala: Tem que fazer doença.

O lance é que eu sou cada vez mais da opinião que essa escravidão do trabalho é coisa sinônimo de bagunça. Pelo menos trabalhando muito em coisa legal é menos estressante.

Abraço

Marco Loco

Anônimo disse...

Grande Marco!

Concordo 100% contigo. Até já falei em aula que existe essa cultura do "depois das 19h". E que, muitas vezes, isso é desnecessário. Trampando durante o dia, rola sair cedo. Claro, existem exceções. Mas a regra é essa.

A Loducca é sem dúvida um lugar para ficar de olho. Mexeu comigo ver aquela mesa de criadores/planejadores. Foi um tapa na cara.

Abraço.
tg

Anônimo disse...

Muito loco, Marco.

Legal ouvir tua opinião sobre processos de agência. Já que até o padrão Europa tu conhece...

Ah, tu pode me passar o teu email?
Quero te fazer umas perguntas de novato curioso.

Abraços,
Lucas (aluno da Perestroika).

Anônimo disse...

Eu só quero saber se esse filme vai ficar bom?!!

ehehehehe.
Duca!

Abrs, M.

Tuts disse...

Alto nível.

Abraços!

Marco Bezerra disse...

meu mail é:

marcolocobezerra@hotmail.com

Fiquem avontz....

Foda né tiagão? Eu sou paga pau dos caras. Não tem como não ser. Ainda mais com um chefe como o Guga. Figura ímpar. A personalidade dele é bem parecida com a dos filmes e anúncios da loducca.

Acho que to ficando velho... Não tenho mais saco de viver pela propaganda. So muito mais dormir de conchinha com a Lisi.

Abraço

Anônimo disse...

planejamento é bem legal, tem bastante aquela coisa de estratégia, do grego, estrategya, do inglês, strategy, do latim strategias magna... hihihihihi...