A história do Tolerância Zero virou polêmica mesmo. Buzz Total. Não tem um dia que eu não me veja discutindo a história pelo menos uma vez.
É estranho porque, por um lado, acho que faz sentido. Sinceramente, faz.
Por outro lado, eu, que nem bebo muito, nem sou muito fã de bebidas, já me senti por duas vezes censurado. Não pude nem tomar um copinho de ceva. Não deu nem para molhar a goela e fazer a social.
O que acho foda é que a lei tem a pretensão de mudar uma cultura que já está muito enraizada no comportamento brasileiro. Nem só brasileiro, mundial. Eu fico imaginando o casalzinho que já ficou uma ou duas vezes em festas e começa a entrar naquela segunda órbita do relacionamento. Tipo, como vão fazer para fazer aquele jantarzinho astral? Um a taça de vinho sempre ajuda a quebrar o gelo. E como se faz? Só um dos dois bebe? Se encontram lá e vão de táxi? Não bebem nada?
O anjinho no meu ombro me sussurra que é melhor isso do que alguém morrer por causa de um motorista bêbado.
O diabinho no meu ombro tem certeza de que a lei de tolerância zero não vai durar muito tempo.
E o bom-sensinho que mora dentro da minha cabeça me diz o que todo mundo já diz. O problema do Brasil não é falta de leis. É a falta do reforço das leis. Em inglês, diria: "It's the enforcement, stupid."
Nos Estados Unidos, ninguém joga lixo no chão.
Mas vou dizer para vocês, não é porque são educados. É porque se jogarem, existe uma possibilidade muito grande de tomarem uma multa. E tem gente paga para ficar esperando alguém jogar lixo no chão e aplicar essa multa.
Ou seja, se todo o esforço que está sendo feito agora para reprimir o uso de qualquer quantidade de álcool fosse empregado para reforçar a lei do 0,6%, a lei já seria efetiva.
Eu acho que vai relaxar.
Em poucos meses, eu acredito que as blitz vão diminuir. Que pouca gente vai ser pega. Que vamos voltar a exatamente a mesma situação de pouca fiscalização. E que novos casais vão poder tomar uma taça de vinho em jantares românticos sem correr risco de serem multados ou presos.
E que um monte de gente vai continuar morrendo por causa de motoristas bêbados.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
13 comentários:
Diz-se que o consumo em bares e casas noturnas já caiu em 40%. E o uso da frase: "Puta merda, que mina feia!" aumentou em 370%.
HAHAHAHAHAHAHA
Cara, eu espero sinceramente que continue assim. É chato pra caralho perder alguém por causa da bebida.
E outra: se essa lei diminuir o uso de carros, que muitas vezes é individual, e aumentar o de táxis, que muitas vezes é coletivo, tem mais uma vantagem.
Como diria um cara genial que eu conheci:
"- É preciso mudar ou...
mudar de vez!"
Disse tudo!
Se no Brasil tivéssemos um sistema de transporte público eficiente, barato e seguro (Londres por exemplo), tu não teria metade das discussões diárias sobre o assunto... Mas em um país onde as leis sempre serviram para tapar o sol com a peneira, pra não variar quem se fode é o cidadão comum.
Ex: uma amiga minha mora em Ipanema, ela deseja ir no Beco. Ao menos RS 40,00 de táxi ida e volta, somados aos 15 de ingresso: R$ 55,00. ela bebendo uma cerveja na rua, já terá morrido em R$ 60,00 antes de abrir a consumação...
Bela bosta para uma estudante que mora com os pais e ganha R$ 400,00 num estágio xexelento, mas melhor que trabalhar um trimestre para pagar a multa por tomar a mesma cerveja de 5 pila...
PS: Alguém parceiro para sociedade em um táxi?
"eu bebo sim... estou vivendo..."
eu sou 100% a favor da tolerância zero.
eu prefiro pensar assim: todo mundo que teve parente voando pelo pára-brisa ou filho atropelado por bebum, é a favor da tolerância zero.
não conheço nenhum cara que diga "é, meu filho morreu por causa de álcool e direção, mas tudo bem, foi um acaso, acho que os 0,6% devem que continuar, afinal, uma cervejinha não dá nada".
então, como eu consigo me colocar no lugar desses caras, e pelo bom senso, prefiro me juntar aos intolerantes.
bebeu, táxi.
tg
A questão aqui não é se beber pouco ou muito interfere na direção (é fato que interfere e sim, acho corretíssima a aplicação de penas severas a quem consumir alcool ao volante), mas sim o suporte que as autoridades dão ao cidadão comum ao aplicar uma lei perneta como essa.
Perneta porque é muito fácil botar todo mundo na ilegalidade de uma hora pra outra, sem propor soluções alternativas e prover a infra-estrutura necessária para o cidadão conviver com esse novo panorama como táxis a preços justos ou ônibus e lotação na madrugada (seguros obviamente). Ou quem sabe dificultar os testes de direção e as exigências para ser considerado um motorista habilitado, formando realmente condutores e não essas coisas que a gente vê pelas ruas.
Irônico é que se eu estiver a 89km/h em via urbana e sóbrio (0% de alcoolemia) pago uma multa de 127 reais e saio limpo. Agora se estiver a 50km/h com um cálice de vinho no sangue, perco a carteira por um ano.
Mais uma: ao anunciar a lei seca, prontamente a Brigada Militar adquiriu 40 bafômetros para intensificar a arrecadação. Por que não compraram e intensificaram a fiscalização há um ano atrás e não só agora, que monetariamente vale a pena?
Lei seca, tolerância zero, expressões que soam lindamente no discurso mas que na prática ainda estão muito longe da maturidade necessária para serem postas em prática.
Pai, afasta de mim esse cálice..
de vinho tinto no sangue.
tá tá, "na mente" :P
hehehehe
tem outra ironia aí, que são as consumações cobradas em bares. se o neguinho tem que consumir 20 pilas num lugar qualquer, o que ele vai beber: 10 refrigerantes ou 4 cervejas? outra (alguém aí já mencionou): se não temos um transporte coletivo fodalhão, como querer que a galera gaste em táxi? andar pela rua na madruga é seguro?
beber pode. o que não pode é dirigir depois.
e governo é foda, só sabe pensar em partes, nunca consegue ver o todo...
abs,
raul
Aqui em Berlim a coisa é bem tolerância ZERO. Nego que está de carro não bebe de maneira alguma. mas....
O transporte público aqui é fodalhasso. Além de ter metrô 24h no final de semana.
Acho que se, não tivesse essa lei e "apenas" um transporte público de primeira, a coisa melhoraria absurdamente. O problema é que o nego só tem duas opções: carro ou taxi.
Tudo no Brasil se resolve de forma parecida.
Quem tem grana ta resolvido. E quem não tem deve se privar de um prazer por pura falta de infra das nossas cidades.
Sou favorável a lei. Mas sou muito mais favorável a um investimento sério em transporte público.
Postar um comentário